Criança selvagem
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Crianças selvagens são crianças que logo nos primeiros anos de vida passaram a viver em completo isolamento da humanidade. São crianças que depois de pouco tempo de vida se perdem da população, vivem como animais, não falam e não andam como pessoas socializadas. Tais histórias se originaram de relatos relativamente comuns no século XVIII, que descreviam crianças encontradas no campo, tidas como sobreviventes por circunstâncias especiais, desde os primeiros anos de vida, criadas por animais, sem contato com humanos e assim se tornando selvagens.[1]
Uma das referências mais conhecidas provém do filósofo e estadista franco-suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) publicada como nota em seu livro Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens (Discours sur l'origine et les fondements de l'inégalité parmi les hommes), em 1755. Nesse livro, ao referir-se à origem do ser humano e às distinções entre esse primeiro humano e outros animais, Rousseau cita os relatos de quatro crianças: um de 1344, uma criança encontrada em Hesse na corte do príncipe Henrique; o de uma criança encontrada entre ursos nas florestas da Lituânia, em 1694 comentado por Condillac (1715-1780) que afirmava não que ela apresentava nenhum sinal de razão, mas que “caminhava com pés e mãos, não possuía nenhuma linguagem e formava sons que nada se assemelhavam aos de um humano”; o caso do “pequeno selvagem” de Hanôver estudado na Inglaterra; e, finalmente, os dois selvagens dos Pirenéus encontrados em 1719. Todos eles incapazes da postura bípede, como comenta.[2]
Naquela época, os relatos de descobertas das crianças selvagens por toda parte eram tão profusas que o célebre sistemata Lineu (1707-1778) chegou a elaborar uma classificação para as quais denominou: tetrapus, mutus e hirsutus.[3]