Fronteira interna alemã
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A fronteira interna alemã (em alemão: Innerdeutsche Grenze, Deutsch-Deutsche Grenze, ou informalmente Zonengrenze) foi um extenso sistema de fortificações que percorria os 1382 km de comprimento da fronteira entre a Alemanha Oriental (República Democrática Alemã, ou RDA) e a Alemanha Ocidental (República Federal da Alemanha, ou RFA), estendendo-se do Mar Báltico até à Checoslováquia. A fronteira foi estabelecida formalmente em 1 de julho de 1945 separando a Alemanha controlada pelos Aliados e a Zona de ocupação soviética. Junto a ela, mais de um milhão de militares da OTAN e do Pacto de Varsóvia esperaram durante vários anos a ocorrência de um conflito.
Fronteira interna alemã | |
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Sinal de aviso de fronteira do lado da Alemanha Ocidental e instalações da Alemanha Oriental em Schlagsdorf, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental | |
Delimita: | Alemanha Ocidental Alemanha Oriental |
Comprimento: | 1 382 km |
Características: | Fronteira dissolvida com a reunificação da Alemanha em 1990 |
Criação: | 1 de julho de 1945 |
Entre 1952 a 1990, durante a Guerra Fria, o sistema de fronteiras foi usado pelo governo da Alemanha Oriental para evitar que os seus habitantes escapassem, fugindo da ditadura comunista que lhes fora imposta, cujo regime suprimia a propriedade privada, a possibilidade de discordar e de eleger os representantes com eleições livres pluripartidárias.[1] Era formada por cercas, muros, vedações, arame farpado, campos minados, valas e outros obstáculos, sendo patrulhada por aproximadamente 50 000 militares da Alemanha Oriental com ordens de atirar para matar (a célebre Schießbefehl ou "Ordem 101"), auxiliados por cães de guarda, cercas elétricas, torres de vigilância e sistemas de armamento automático, face a dezenas de milhares de militares da Alemanha Ocidental, Estados Unidos da América e Reino Unido.[2] Por volta de mil pessoas morreram ao tentar atravessar a fronteira durante os seus 45 anos de existência.[3] A fronteira causou enormes alterações na economia e sociedade alemãs, em ambos os lados. Os leste-alemães sofreram em especial restrições draconianas diversas.[4]
O Muro de Berlim, que separou entre 1961 e 1989 Berlim Oriental de Berlim Ocidental, era a parte mais famosa do sistema, embora nem chegasse a constituir 10% da área total da fronteira. Esta fronteira tornou-se a mais militarizada de toda a Europa e uma das mais militarizadas do mundo. Foi uma literal manifestação da famosa metáfora de Winston Churchill em 1946: «Uma cortina de ferro que fechou o continente». Assim, a fronteira era muito mais que uma simples linha de defesa: as suas fortificações evitavam acima de tudo que os civis da RDA escapassem para a parte ocidental. Era algo mais que uma simples fronteira, porque claramente dividia a Europa em dois campos rivais, tanto politicamente (de um lado estavam democracias liberais capitalistas, e do outro vários estados comunistas), como no lado económico (a CEE contra o Comecon), e militarmente (a OTAN contra o Pacto de Varsóvia). Assim esta fronteira tornou-se definitivamente em um dos principais símbolos da Guerra Fria.
Em 9 de novembro de 1989 o governo da Alemanha Oriental anunciou a abertura do Muro de Berlim e da fronteira interna alemã. Nos dias que se seguiram, milhões de alemães orientais começaram a visitar o lado ocidental. Da mesma forma, houve centenas de milhares que decidiram mudar para o Ocidente no início da década de 1990, à medida que cada vez menos restrições eram impostas, e que os laços quebrados com as comunidades do lado ocidental foram reatados. As formalidades do controlo fronteiriço tornar-se-iam um pouco mais que uma curiosidade histórica. A fronteira interna alemã só foi completamente abandonada em 1 de julho de 1990,[5] precisamente 45 anos depois da sua fundação, e apenas três meses antes da reunificação alemã terminar a divisão entre estados. Ainda restam alguns resquícios dessa fronteira. A área que ela ocupava foi declarada parte do "Cinturão Verde Europeu" que liga parques nacionais e reservas naturais ao longo da antiga "Cortina de Ferro", desde o Círculo Polar Ártico ao Mar Negro. Museus e monumentos comemorativos ao longo da fronteira lembram a época de divisão da Alemanha e, em alguns locais, ainda são preservados elementos das fortificações.[6]