Cubismo cézanniano
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O cubismo cézanniano ou cubismo pré-analítico (1907-1909 ) foi a fase que iniciou o movimento do cubismo. Leva esse nome por conta do pintor Paul Cézanne, o precursor do movimento cubista. Por conta da mudança estética e no ideal de representação da arte, pode-se considerar que o Paul Cézanne fez um movimento de revolução da arte pictoresca - movimento esse que ficou conhecido como "Revolução cézanniana" e por isso esse estágio inicial do movimento cubista recebeu seu nome.[1] Esta fase foi fortemente marcada pela obra de Cézanne, sobretudo no caráter analítico das formas e planos de cor, que influenciou a análise de paisagens e objetos.
O olhar cubista, desde suas primeiras provas, esteve voltado para Cézanne por mais de uma razão, mas, principalmente, pela iniciativa deste em interceptar o probabilismo da pintura impressionista. O que os pintores do cubismo rejeitavam nos impressionistas era a ausência de rigor, de coesão estilística e, acima de tudo, o seu episodismo. Guillaume Apollinaire, numa apresentação de Braque escrita em 1908, cita o impressionismo como “uma época de ignorância e de frenesi”. Existem, também, relatos de que Picasso, depois de olhar o entorno durante uma exposição de impressionistas, exclamou: “Vê-se aqui que está chovendo, vê-se que o sol brilha, mas nunca se vê a pintura.”[2]
Era Cézanne quem buscou reparar essa situação de fraqueza em que a pintura havia caído; procurou superar – e o fez, propriamente – o provisório com uma arte definida, sólida, concreta. Em suas obras, a luz era absorvida pelos objetos, transformada em forma assim como a cor. O artista recusou a impressão para compreender mais profundamente a realidade; a definição formal encerrava os sentimentos. Nas palavras dele, a “arte deve provocar o arrepio de sua duração, deve fazer-nos senti-la eterna.” Era esse o principal motivo que atraía os cubistas. Léger confessava: “Às vezes me pergunto o que seria da pintura atual sem Cézanne. (...) [Ele] me ensinou o amor pelas formas e pelos volumes e fez com que eu me concentrasse no desenho. Pressenti, então, que o desenho tinha de ser rígido, nem um pouco sentimental.”[2]
A invenção formal cezaniana percorreu o caminho que elege a cor como veículo específico para se fazer arte. “Uma vez que a natureza manifesta a sua verdade através das formas coloridas, da mesma maneira, (...) o quadro deve manifestar a substância poética que o alimenta”. Surge, então, a célebre noção de forma-cor: nela, quanto mais definida a cor, mais aparece o desenho dos objetos e mais a cor vira, simultaneamente, forma. Por isso, a pintura de Cézanne só pode ser uma pintura plástica, de volumes. O conteúdo condensado torna-se um dos elementos básicos de seu estilo e o faz assumir pinceladas secas e construtivas; a poética é a da simplificação das formas: “na natureza, tudo é modelado segundo três módulos fundamentais: a esfera, o cone e o cilindro. É preciso aprender a pintar essas figuras simples, depois será possível fazer tudo que se quiser.”[2]
Criadas as formas, era hora de relacioná-las entre si e, enfim, compor a arquitetura do quadro. Cézanne, na tentativa de reproduzir a forma plástica das coisas a fim de sugerir o devido peso e substância delas, foi levado a olhar um mesmo objeto de vários pontos de vista. O objeto, por sua vez, tendia a mostrar mais lados de si mesmo, inaugurando proporções e relações diferentes das tradicionais e acadêmicas. Concepção esta que, mais tarde, no cubismo, apontará para a completa ruptura com a perspectiva renascentista, manifestando-se, assim, uma nova dimensão do espaço pictórico: "uma dimensão que excluía a ideia de distância, do vazio e da medida, enfim do espaço material, em favor de um espaço evocativo, verdadeiro, não ilusório, no qual os objetos podiam se abrir, estender-se, sobrepor-se, subvertendo as regras da imitação e permitindo ao artista uma nova criação do mundo segundo as leis de um critério intelectual particular".[3]
A lição cézanniana foi primeiramente entendida e interpretada com intransigência por Picasso, Braque e Léger. Foi no Salão de Outono de 1907, durante a retrospectiva das obras de Cézanne – realizada um ano após a sua morte –, que os cubistas ficaram vivamente tocado pelo falecido pintor, que soube tratar a natureza com o cilindro, a esfera e o cone reduzindo o real a volumes simples.[4] Em Picasso, estes ensinamentos foram aliados ao arcaísmo da escultura ibérica e, posteriormente, à arte negra, entre outras influências.[2]