Comunidades Eclesiais de Base
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As Comunidades Eclesiais de Base (CEB) são comunidades inclusivistas ligadas principalmente à Igreja Católica que, incentivadas pela Teologia da Libertação, se espalharam principalmente nos anos 1970 e 80 no Brasil e na América Latina. Consistem em comunidades reunidas geralmente em função da proximidade territorial e de carências e misérias em comum, compostas principalmente por membros insatisfeitos das classes populares e despossuídos, vinculadas a uma igreja ou a uma comunidade com fortes vínculos, cujo objetivo é a leitura bíblica em articulação com a vida, com a realidade política e social em que vivem e com as misérias cotidianas com que se deparam na matriz ordinária de suas vidas comunitárias. Através da hermenêutica do método ver-julgar-agir buscam olhar a realidade em que vivem (ver), julgá-la com os olhos da fé (julgar), buscando nunca perder de vista o dom da tolerância e o dom da caridade. Sem, no entanto, deixar que a razão fique obnubilada e encontrar caminhos de ação e contemplação, mesmo que impulsionados por este mesmo juízo prático ou teórico à luz da fé (agir).
A neutralidade deste artigo foi questionada. (Janeiro de 2013) |
Um dos mais recentes pronunciamentos do Magistério sobre as CEBs ocorreu na V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe realizada pelo CELAM em Aparecida (2007), quando foi ressaltado que "as comunidades eclesiais de base terão cuidado para não alterar o tesouro precioso da Tradição e do Magistério da Igreja", visando retificar as frequentes desorientações havidas em épocas passadas. As CEBs são comunidades, uma reunião de pessoas que vivem na mesma região, tem uma mentalidade unificante e possuem a mesma fé. São eclesiais, porque estão unidas à Igreja ou a um grupo de ação social. São de base porque são constituídas de pessoas das classes populares e de menor cultura e se contrapõem aos que tem posses. Localizam-se em geral na zona rural e na periferia das cidades. Organizam-se em torno das paróquias, capelas, centros sociais ou associações comunitárias por iniciativa de leigos, padres ou bispos. Segundo Frei Betto,[1] as CEBs são uma nova forma de organizar. Tradicionalmente, a Igreja Católica é organizada em torno das paróquias. As CEBs permitem que a organização se dê através de comunidades menores, onde os membros podem estabelecer laços comunitários entre si. Assim, as paróquias evangelizadoras podem se tornar verdadeiras comunidades paroquiais de vanguarda.
O formuladores das CEBs desde o princípio advogaram para essas comunidades um protagonismo de primeira grandeza dentro da Igreja. As CEBs seriam o "primeiro e fundamental núcleo eclesial, (...) célula inicial da estrutura eclesial",[2] unidade estruturante da Igreja.[3] Tal grandiloquência chegava a lembrar o espírito triunfalista tão criticado na mentalidade pré-conciliar.[carece de fontes?] No entanto, essas formulações conceituais nunca passaram de um desideratum, visto que o Catecismo da Igreja Católica, os Documentos pontifícios do Papa João Paulo II, o Código de Direito Canônico ou outros documentos estruturantes da Santa Sé nunca incorporaram as CEBs, omissão essa que alguns interpretam como uma restrição.
Deve-se ressaltar que as Comunidades Eclesiais de Base não são homogêneas nem homogenizáveis, dada a diversidade social heterogênea e estratificada, religiosa e geográfica e as formas distintas de compreender e viver sua inserção crítica eclesial e sua participação na sociedade. Correspondem a uma organização descentralizada, diferentes entre si, como resposta aos desafios sociais e eclesiais concretos. Não possuem secretariado nacional, mas uma "comissão ampliada" que faz a ponte entre os encontros nacionais (Encontros Inter-eclesiais) entre as igrejas particulares.[4] Entretanto, segundo Bingemer,[5] é possível detectar quatro traços distintivos de uma CEB:
- O primeiro traço é a territorialidade: são pessoas que se reúnem por proximidade geográfica. Esta proximidade está na origem da discussão e reivindicação por serviços básicos (Bolsa Família, água, saneamento).
- Círculos bíblicos: os grupos se reúnem para leitura e reflexão da Palavra de Deus e confrontá-la com a vida cotidiana. Muitas comunidades iniciaram a partir destes círculos bíblicos e passaram a organizar celebração dominical, com ou sem sacerdote.
- Participação e discussão dos problemas comunitários em conselhos ou assembleias, com ampla participação dos membros.
- A partir das necessidades das comunidades, foram surgindo diversos ministérios leigos ao longo da história das CEBs: ministros da Comunhão, ministros das pastorais específicas ou grupos de alfabetização de adultos, creches, bibliotecas e hortas comunitárias, clubes de mães.
A partir da reflexão sobre os problemas da família, do trabalho e do bairro, as CEBs ajudaram a criar movimentos sociais para organizar sua luta: associações de moradores, organizações sindicais, luta pela terra e também o fortalecimento do movimento operário.