Antropologia e psicanálise
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Antropologia (do grego άνθρωπος, transl. anthropos, "homem", e λόγος, logos, "razão"/"pensamento") é a ciência que se ocupa em estudar o homem enquanto espécie primata e a humanidade ou seja seus símbolos e produtos culturais. Uma ciência que conquistou seu lugar evoluindo de relatos de vivências e descrições de costumes feitas por viajantes, afirmando a necessidade da pesquisa de campo e aprofundamento do conjunto de descrições etnográficas (corpus etnograficos) de todos os povos do mundo que vinham se acumulando (Laplatine).[1] Distinguindo-se da sociologia e da economia política as denominadas ciências humanas e mesmo da psicologia social enquanto ciência dos costumes e estilos de vida, a antropologia dialoga com essas ciências afirmando seus próprios métodos e referencial teórico de diversas procedências. A psicanálise se inclui entre as psicoterapias, e em relação à antropologia deve-se considerar a "via de mão dupla", tanto desta para a antropologia como da antropologia para a psicanálise.
A psicanálise, também, pode ser descrita como um procedimento especializado de psicoterapia, uma teoria da personalidade além de uma teoria da cultura ou filosofia sobre a natureza humana, onde residem suas maiores contribuições à antropologia. Segundo Freud, a psicanálise cresceu num campo muitíssimo restrito. No início, tinha apenas um único objetivo — o de compreender algo da natureza daquilo que era conhecido como doenças nervosas ‘funcionais’, com vistas a superar a impotência que até então caracterizara seu tratamento médico e possuía desde o início a expectativa de participar do desenvolvimento cultural como um fermento significativo auxiliar ao aprofundamento de nosso conhecimento do mundo.[2]
Apesar das severas críticas sofridas por alguns setores influentes da antropologia a exemplo de Alfred Louis Kroeber (1876-1960)[3] o livro "Totem e tabu, algumas concordâncias entre a vida dos homens primitivos e dos neuróticos", (1913) o primeiro trabalho de Freud, fora do âmbito da neurologia e clínica, teve um significativo impacto nas "ciências do homem" instituindo-se como um marco da relação entre essas disciplinas. Observe-se, como assinala Mezan em vários momentos de sua tese de doutorado em filosofia, a expressão primitivo deve ser compreendida como os aspectos originários e intrínsecos à natureza humana individual e social, indissociavelmente inter-relacionados, também presentes na crianças, e também evidenciados nas neuroses.[4]
Géza Róheim (1891-1953) um geógrafo e antropólogo húngaro, posteriormente psicanalista, considerava o referido livro um grande marco na história da antropologia, equivalente segundo ele equivalente às obras de Edward Burnett Tylor (1832-1917), "Primitive Culture" e Sir James George Frazer (1854-1941) "The Golden Bough".[5] aliás, consta que o próprio S. Freud considerava esses textos publicados inicialmente na revista Imago (editada por ele) e posteriormente reunidos no livro "Totem e tabu", juntamente com seu outro livro, "A interpretação dos sonhos" (1900), as produções básicas de sua obra. Paulo Cesar Souza, historiador e atual tradutor das obras completas de Freud, em nota de pé de página de sua tradução de Totem e Tabu[6] recomenda os textos de Marvin Harris. "The rise of anthropological theory", 1968 (cap. 16)[7] e Edwin R. Wallace IV, "Freud and anthrological theory", 1983 para uma avaliação crítica dos ensaios antropológicos de Freud.