História da botânica
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A história da botânica é a exposição e narração das ideias, investigações e obras relacionadas com a descrição, classificação, funcionamento, distribuição e relações dos organismos pertencentes aos reinos Fungi, Chromista e Plantae através dos diferentes períodos históricos.[nota 1] [nota 2]
Desde a antiguidade, o estudo dos vegetais foi abordado através de dias aproximações bastante diferentes: a teórica e a utilitária. A partir do primeiro tipo de aproximação, com a denominação de botânica pura, a ciência das plantas foi erigida pelos seus próprios méritos como uma parte integral da biologia. A partir da concepção utilitária, com a denominação de botânica aplicada,[3] a ciência das plantas era concebida como uma disciplina subsidiária da medicina ou da agronomia. Nos diferentes períodos da sua evolução, uma ou outra aproximação predominava, embora nas suas origens, que datam do século VIII a.C., a aproximação aplicada foi a que teve mais evidência.[4]
A botânica, como muitas outras ciências, alcançou a primeira expressão definida dos seus princípios e problemas na Grécia Antiga, tendo posteriormente continuado o seu desenvolvimento durante a época do Império Romano.[5] Teofrasto, discípulo de Aristóteles e considerado o pai da botânica, escreveu duas obras importantes que podem assinalar como sendo a origem desta ciência: De historia plantarum (‘História das plantas’) e De causis plantarum (‘Sobre as causas das plantas’).[6] Depois da queda do Império Romano, no século V, todas as conquistas alcançadas na antiguidade clássica tiveram que ser redescobertas a partir do século XII, por se terem ignorado ou perdido boa parte delas durante a Baixa Idade Média. A tradição conservadora da Igreja e o trabalho de poucas personalidades fizeram avançar, ainda que muito lentamente, o conhecimento dos vegetais durante esse período.[7]
Nos séculos XV e XVI. a botânica desenvolveu-se como uma disciplina científica, separada do herbalismo e da medicina, embora tenha continuado a dar contribuições para ambas. Diversos factores permitiram o desenvolvimento e progresso da botânica durante estes séculos: a invenção da imprensa, a aparição do papel para a elaboração de herbários e o desenvolvimento dos jardins botânicos, tudo isto conjugado com o desenvolvimento da arte e ciência da navegação marítima que permitiu a realização de expedições botânicas. Todos estes factores juntos levaram a um aumento apreciável do número de espécies conhecidas e permitiram a difusão do conhecimento local ou regional a uma escala global.[8][9]
Impulsada pelas obras de Galileu Galilei, Johannes Kepler, Francis Bacon e René Descartes, durante o século XVII originou-se a ciência moderna. Devido à crescente necessidade dos naturalistas europeus de fazerem intercâmbio de ideias e de informação, começaram a ser fundadas as primeiras academias científicas.[10] Joachim Jungius foi o primeiro cientista que combinou uma mentalidade treinada em filosofia com observações exactas das plantas. Possuía a habilidade de definir os termos com exactidão e como tal, de reduzir o uso de termos vagos ou arbitrários na sistemática. É considerado o fundador da linguagem científica, que mais tarde foi desenvolvida pelo inglês John Ray e aperfeiçoada pelo sueco Lineu.[10]
A Lineu são atribuídas várias inovações centrais em taxonomia. Em primeiro lugar, a utilização da nomenclatura binomial das espécies em ligação com uma rigorosa caracterização morfológica das mesmas. Em segundo lugar, o uso de una terminologia exacta. Baseado no trabalho de Jungius, Lineu definiu com precisão vários termos morfológicos que seriam utilizados nas suas descrições de cada espécie ou género, em particular aqueles relacionados com a morfologia floral e com a morfologia do fruto. Não obstante, o mesmo Lineu notou as falhas d o seu sistema e procurou em vão novas alternativas. O seu conceito da constância de cada espécie foi um obstáculo óbvio na tentativa de estabelecer um sistema natural, já que essa concepção de espécie negava a existência das variações naturais, essenciais para o desenvolvimento de um sistema natural. Esta contradição permaneceu durante muito tempo e não foi resolvida até 1859, com a obra de Charles Darwin.[10] Durante os séculos XVII e XVIII também se originaram duas disciplinas científicas que, a partir desse momento, iriam ter uma influência importante no desenvolvimento de todas as áreas da botânica: a anatomia vegetal e a fisiologia vegetal.
As ideias essenciais da teoria da evolução por selecção natural de Darwin influenciaram muito a concepção da classificação dos vegetais. Desse modo, apareceram as classificações filogenéticas, baseadas nas relações de proximidade evolutiva entre as diferentes espécies, reconstruindo a história da sua diversificação desde a origem da vida na Terra até à actualidade. O primeiro sistema admitido como filogenético foi o contido na obra Syllabus der Planzenfamilien (1892) de Adolf Engler e conhecido mais tarde como Sistema de Engler, cujas numerosas adaptações posteriores formaram a base de um marco universal de referência segundo o qual se organizaram muitos tratados de floras e herbários de todo o mundo, se bem que os seus princípios para interpretar o processo evolutivo nas plantas foram abandonados pela ciência moderna.[11]
Os séculos XIX e XX foram fecundos nas investigações botânicas, tendo levado à criação de numerosas disciplinas como a ecologia, a fitogeografia, a citogenética e a biologia molecular e nas últimas décadas, a uma concepção da taxonomia baseada na filogenia e nas análises moleculares de ADN e à primeira publicação da sequência do genoma de una angiospérmica: Arabidopsis thaliana.[12][13]