Dogma central da biologia molecular
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O dogma central da biologia molecular é um conceito que busca explicar os mecanismos de transmissão e expressão da informação genética (ajudando consequentemente no entendimento da hereditariedade), criado pouco tempo após a descoberta da estrutura em dupla-hélice do DNA. Da forma como foi proposto inicialmente por Francis Crick em 1957 e posteriormente publicado em 1958, o dogma assume a transferência genética da molécula de DNA para uma de RNA, e posteriormente para proteínas, que são os componentes finais que atuam nas mais diversas funções celulares. Também assume que, uma vez que a informação passa para a proteína, não há retorno ou transferência para qualquer um dos ácidos nucleicos ou mesmo para outras proteínas; mas que é possível haver transferência de ácido nucleico para ácido nucleico, seja ele DNA ou RNA. Em outras palavras, DNA e RNA podem se duplicar, serem transcritos de um para outro ou gerar proteínas, mas o mesmo não ocorre com as proteínas em si, segundo o postulado.[1]
Há ainda uma segunda versão do dogma que data de uma data próxima, formulada por James Watson, que não é válida atualmente[2] porque assume uma unidirecionalidade na transmissão da informação contida nos genes de uma célula, ou seja, temos que o DNA é transcrito em RNA e que este, por sua vez, é traduzido em proteínas, não existindo possibilidade de retorno de RNA para DNA. Essa versão postula, ainda, que apenas a molécula de DNA é capaz de se duplicar.[3] Todavia, sabe-se atualmente que esse processo não é unidirecional e que se assemelha mais ao que foi proposto por Crick anteriormente e que, apesar das exceções, é ainda aceito como uma explicação genérica válida para o fenômeno de transmissão da informação genética.[2]
Quanto ao uso do termo dogma, palavra associada comumente a um significado religioso e de verdade absoluta, Francis Crick ressalta que cunhou erroneamente o termo ao elaborar o conceito, que é na realidade uma hipótese científica. Em uma entrevista registrada por Horace Freeland Judson em “O oitavo dia da criação”, Crick enfatiza a real intenção com o termo ao utilizá-lo em sua hipótese:
Tradução livre: "Eu simplesmente não sabia o que dogma significava. E eu poderia muito bem ter chamado de 'Hipótese Central'... Dogma era apenas uma frase mais chamativa. E é claro que alguém teve que pagar por isso, porque as pessoas se ressentiram com o uso do termo… Se fosse ‘Hipótese Central’, ninguém teria se importado”.[4]