Catharanthus roseus
Planta endêmica de Madagáscar / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
A Catharanthus roseus (L.) G. Don ou vinca é uma planta ornamental originária de Madagascar, que foi amplamente cultivada em diversos países, inclusive no Brasil, se distribuindo por todas as regiões tropicais e subtropicais. O seu principal uso na jardinagem se deve a sua inflorescência característica, que ocorre, principalmente, nos mês de novembro. A coloração e simplicidade das flores atraem os cultivadores.
Vinca-de-madagáscar | |||||||||||||||
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Classificação científica | |||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||
Catharanthus roseus L. | |||||||||||||||
Sinónimos | |||||||||||||||
Ammocallis rosea (Pequeno) Lochnera rosea (Rchb.) Vinca rosea (Basiônimo) |
Com 30 a 50 cm de altura, é uma planta herbácea perene, ou seja, de pequeno porte e com um longo ciclo de vida, sem queda de suas folhas ao longo do ano. A dispersão da espécie pode ser por semente ou por meio de seus ramos, raízes ou folhas, denominados popularmente como estacas. Além disso, sua germinação ocorre com facilidade e em ambientes escuros, sobrevive bem em solos arenosos e sob pleno sol, sendo pouco exigente em água.
Morfologicamente, a C. roseus apresenta folhas elípticas, semelhantes à ponta de uma lança, de coloração verde escura brilhante e glabras, isto é, sem a presença de tricomas, bem como com nervuras peninérvias. A sua filotaxia é oposta cruzada e apresenta inflorescência terminal, ou seja, no ápice do ramo com apenas uma ou duas flores tubulares de corola hipocrateriforme (tubo alongado) e de coloração rosa ou branca.
Somado a isso, a vinca possui frutos do tipo folículo, que são secos, com sementes escuras e pequenas.
Além do seu caráter ornamental, as suas características mais utilizadas atualmente são devidas a alta concentração de importantes alcaloides em suas estruturas que possuem fins farmacológicos com compostos ativos importantes para o tratamento oncológico. Concomitantemente, a C. roseus também possui propriedades tóxicas e alucinógenas, sendo muito usual na medicina tradicional indiana, denominada Ayurveda.
A planta Catharanthus roseus possui mais de 90 alcaloides em sua composição. Entre eles está a vincristina e a vimblastina. Os diversos alcaloides derivados de C. roseus possuem estruturas semelhantes, porém a toxicidade e a atividade são diferentes entre si.
Vincristina é classificada como um agente antimitótico que atua especificamente durante a mitose e a interfase, inviabilizando a divisão mitótica durante a metáfase ao se ligar a tubulina. Com isso, impede a polimerização e a formação de microtúbulos do feixe mitótico. Além disso, interfere na síntese proteica e de ácidos nucléicos, bloqueando a utilização do ácido glutâmico. Ela é utilizada no tratamento de diversos tipos de tumores sólidos e hematológicos como: câncer de mama, linfomas não-Hodgkin, linfoma Hodgkin, leucemia aguda, e como coadjuvante no tratamento de rabdomiossarcoma, neuroblastoma e nefroblastoma.
Somado a isso, a vimblastina também é classificada como antimitótico induzindo a despolarização de microtúbulos. Ela é mais efetiva no tratamento de câncer de testículos, bexiga, linfoma, mama ou sarcoma de Kaposi e cérvico-uterino.
Apesar de seu papel importante no tratamento de neoplasias, a principal limitação do uso da vincristina é sua neurotoxicidade periférica, desencadeando neuropatias sensoriais, motoras e/ou autonômica e a neutropenia associada aos alcalóides da vinca corresponde à toxicidade dose limitante. Por esses motivos, e na tentativa de melhor aproveitar os benefícios da C. roseus, a espécie passou por processos biotecnológicos referentes ao metabolismo secundário e, além disso, alguns derivados semissintéticos dos alcaloides ativos surgiram no mercado com o propósito de apresentar maior atividade terapêutica e menos efeitos tóxicos relacionados, como a vinorelbina e a vindesina.
A vinorelbina ou nor-5’-anidrovimblastina (Navelbina®), um dos derivados alcaloídicos semissintéticos da vinca, possui largo espectro de atividades antitumorais, sendo especialmente ativo no câncer de mama e carcinoma de pulmão de não-pequenas-células. Comparado com os outros alcaloides da vinca, vinorelbina se mostra mais ativo e menos neurotóxico. Trata-se de um composto altamente lipofílico que é rapidamente distribuído para tecidos periféricos do corpo.
Vindesina, ou sulfato de 4-desacetilvimblastinamida (Eldisina®), é também um derivado semissintético da vimblastina. É relatado como ativo em câncer de mama, melanoma, adenocarcinoma de pulmão e malignidades hematológicas, especialmente naquelas resistentes à vincristina. Essa interrompe a mitose de forma dose-dependente e reversível com a retirada da mesma.
Além desses compostos semissintéticos, com o advento da nanotecnologia, surgiram novos compostos como a vincristina lipossomal, que utiliza um sistema de transporte transmembranar, vincristina encapsulada em lipossomas com esfingomielina/colesterol, e um conjugado que combina a vincristina ao ácido fólico com hidrazida desacetilvimblastina.
Como dito, os principais compostos ativos isolados da Catharantus Roseus são a vimblastina e a vincristina, alcaloides que pertencem a um grupo de moléculas determinadas alcaloides da vinca, comumente utilizadas como quimioterápicos. Essas moléculas são sintetizadas na planta a partir dos precursores catarantina e vindolina através de uma rota biossintética que permanece, em parte, desconhecida. Apesar de sua importância médica e farmacológica, a produção desses alcaloides pela planta ocorre em quantidades muito baixas e sua produção sintética enfrenta problemas de alto custo e alta complexidade na síntese, devido a necessidade de manter a estereoquímica dos compostos de modo que sua atividade anti-tumoral não seja comprometida. Devido a isso, há vários esforços para mapear a rota biossintética dos alcaloides de modo a obter uma produção satisfatória através de engenharia genética.
A vimblastina e a vincristina exercem sua função quimioterápica ao se ligarem a tubulina, impedindo a formação dos microtúbulos e portanto, interferindo no processo de formação do fuso mitótico e das fibras do cinetocoro, necessários para separação dos cromossomos durante a fase da anáfase na mitose. Tal atividade foi descoberta através de estudos que tinham como objetivo estudar supostos efeitos da planta que poderiam contribuir no controle da diabetes. Durante os estudos, foi observada queda no número de leucócitos dos animais injetados com as substâncias, devido à atividade dos fármacos em reduzir a multiplicação celular. A partir daí, foi teorizado que a vimblastina e a vincristina poderiam ser utilizadas como tratamento para cânceres relacionados aos leucócitos, como linfomas.
Além da vinblastina e da vincristina, já foram isolados mais de 90 alcalóides da planta, a maioria derivada do indol e do dihidroindol, presentes nas folhas, raízes e caules da vinca. Entre os monômeros isolados da planta estão a catarantina, vindolina, isovindolina, ajmalicina, serpentina, aparicina, entre outros, compartilhados com outras espécies da mesma família. A catarntina e a vindolina, além de serem precursoras dos compostos ativos citados anteriormente, também são utilizadas em processos semi-sintéticos de síntese de outros fármacos que não ocorrem naturalmente, como a vinorelbina.