Bombardeio de São Paulo em 1924
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O bombardeio de São Paulo decorrente da Revolta Paulista de 1924 foi o maior ataque de artilharia e aéreo da história paulistana. De 5 a 28 de julho as forças revoltosas e legalistas usaram do bombardeio na sua luta pela cidade; os rebeldes tinham até 26 peças de artilharia do Exército Brasileiro, enquanto os legalistas acumularam mais de uma centena de peças e seis bombardeiros da Aviação do Exército. A artilharia e especialmente a artilharia legalista foi a maior responsável pelas vítimas do conflito, a maioria das quais foram civis.
Os rebeldes tinham a vantagem de artilharia nos primeiros dias e atirararam desde a manhã de 5 de julho. De posições como o Campo de Marte e o Cemitério do Araçá, miraram seus canhões Krupp de 75 e 105 milímetros contra o Palácio dos Campos Elíseos, sede do governador Carlos de Campos, o quartel do 4.º Batalhão da Força Pública de São Paulo e outros alvos legalistas. Erros de pontaria custaram a vida de diversos civis, mas a pressão sobre o governador contribuiu à retirada das tropas legalistas à periferia da cidade, no dia 8. A divisão legalista do general Eduardo Sócrates recebeu contínuos reforços, acumulando uma forte vantagem de artilharia, com modelos mais recentes da Schneider e Saint Chamond, incluindo a artilharia mais poderosa do conflito, de 155 milímetros.
Dos lados da Penha e Ipiranga, a artilharia divisionária fez ataques intensos a partir do dia 11, mirando principalmente os bairros operários do sul e leste da cidade, como o Brás, Belenzinho e Mooca, por onde as tropas legalistas tentavam avançar. O bombardeio legalista destruiu alguns redutos defensivos, como as fábricas, mas foi de modo geral ineficaz; o general legalista Abílio de Noronha criticou-o em termos técnicos como um ataque a esmo, sem regulação e correção de tiro, destruindo principalmente alvos civis. A população foi aterrorizada, escondendo-se nos porões e deixando a cidade às centenas de milhares. Representantes diplomáticos estrangeiros e a elite econômica paulista, prejudicada pelo caos na cidade, tentaram negociar uma interrupção nos bombardeios, mas o governo não cedeu. O bombardeio tinha o pleno aval do presidente Artur Bernardes e do governador Carlos de Campos, autor da expressão: “São Paulo prefere ver destruída sua bela capital antes do que destruída a legalidade no Brasil”.
1 800 construções foram danificadas no conflito, dentre as quais o Theatro Olympia, a Igreja da Glória, o Cotonifício Crespi e a Fábrica de Biscoitos Duchen são emblemáticos. O bombardeio foi muito controverso em sua época e marca negativamente a imagem de Artur Bernardes na historiografia. A brutalidade do bombardeio é comparada a conflitos anteriores como Canudos, e o governo é acusado de ter deliberadamente atacado os civis num “bombardeio terrificante”, seja como punição à população dos bairros operários ou como pressão para forçar os rebeldes a se retirar — o que eles fizeram em 27 de julho. A legalidade dessa decisão é contestada desde 1924, pois o direito internacional da época já condenava o bombardeio de uma cidade sem consideração pelas mortes civis, o que poderia configurar um crime de guerra.